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segunda-feira, 8 de agosto de 1977

1977 - 14 ANOS - EMPREGO DE BOY NA AGAEME CONTABILIDADE

Minha tia Rosalva trabalhava na "Certa Contabilidade" e no mesmo andar do prédio, a "Agaeme Contabilidade"  precisava de um office-boy. Eu fui com a minha mãe lá e fiquei empregado.

Foi uma época memorável, quando conheci bastante gente de todo tipo.

A chefia era legal: Tinha o Sr Genuíno já com certa idade, o Hélcio, o contador e o Hélio o advogado, todos Magalhães.

Minha chefe imediata era a idosa "Dona" Ruth. E ela realmente gostava de mim, pois sempre me dava livros e me indicava como exemplo para os outros boys, já que somente eu estudava o segundo grau:

-Sigam o exemplo dele: É um boy, mas é químico!

Obviamente eu ficava todo bobo! Mas não adiantava nada! os outros boys me sacaneavam muito!

Mas era norma, e na verdade todos sacaneavam a todos.

Era um grupo engraçadíssimo, e eu não tinha raiva, e entrava na brincadeira.

Tinha o Celso, o Erenilton, o Charleston, o Vinícius, o Sérgio, o Aulus... e mais alguns que passaram rápido por lá.

Era comum por exemplo, colocarem rabinhos de papel, bem compridos, colados com durex na bunda de alguém, e lá ia o infeliz na rua arrastando o rabo no chão.

Era muito engraçado, mas eu só passei a colocar nos culpados que tentavam em mim, mas eu era muito atento, e nunca desfilei de rabo.

O Aulus, novato total, foi mandado por alguém ir buscar carnês do INSS, e como ele não sabia onde, caiu na asneira de perguntar aos boys, e o Celso, se não me engano, mandou ele ir lá na repartição do INSS pedir os carnês, sendo que era para ele pegar no armário da sala!

O cara foi lá na 25 de Agosto, pegou uma fila desgraçada, acho que até perdeu o horário do almoço, e todo mundo comentando:

- Cadê o boy novo?

- Ele sumiu!

E a gente morrendo de rir baixinho no nosso canto.

A Dona Ruth desconfiou e descobriu, mas riu também. Era bem humorada a velhinha.

Mas a rapaziada era leal também. Nessa época eu fazia Química e tinha levado um pouco de ácido sulfúrico concentrado para casa, e guardei no alto de uma prateleira para que meus irmãos não mexessem.

Eu adorava mostrar aos leigos como um pouco de açúcar num copo CRESCE COMO UM ALIEN NEGRO ao despejarmos um pouco do ácido sulfúrico - H2SO4.

Eu fazia essas maluquices, tipo misturar (eu decorei as medidas exatas) o perigoso ácido clorídrico - HCl com o também perigoso hidróxido de sódio-NaOH, mandando a todos manter distância por ser muito arriscado mexer nesses compostos, e de repente BEBER TUDO, assustando a todos, mesmo quando eu explicava que depois de misturado, era apenas água e sal de cozinha - H2O + NaCl

O problema foi que depois de uns dias, eu mesmo fui puxar uma apostila lá de cima, e o vidro escuro caiu e bateu na prateleira, fazendo a rolha de borracha saltar, E GOTAS DO ÁCIDO CAÍRAM NOS MEUS OLHOS E BRAÇOS!

QUE DOOOORRRR!!!!!!!!!!!!! Meus olhos como que COZINHARAM!

Foi a minha maior burrice até hoje! Vitriolismo auto infringido!!!

Dei o maior grito da minha vida: "-VOU FICAR CEGO!" - corri, e lavei o rosto na pia, sentindo o gosto azedo do ácido, ouvi meu irmão Ednaldo chorando pelo susto que eu dei e pela gota que caiu nele.

Na mesma hora, todo mundo correu pra ver o que estava havendo. (Imagina! Sou normalmente o maior ninja silencioso, e de repente dou o maior berro?)

Tranquilizei a todos, e disse pra minha mãe que iria no hospital só pra constar, que nada iria acontecer de mais.

Na verdade, intimamente eu temia a cegueira sim, pois conhecia bem os efeitos poderosos do H2SO4.

Lembrei que Celso, Erenilton e o Sérgio estariam na AFE jogando baralho (claro, estudando que é bom, nunca), e eu fui lá com os olhos ardendo como o diabo! Peguei meus óculos escuros e saí de noite, me contorcendo e lacrimejante, todos na rua me achando louco.

Et violá! Lá estava a rapaziada, que apesar do susto, me levaram ao hospital.

Só que na saída, eu todo vendado, sem ver p@##@ nenhuma, fui sacaneado, como de praxe, pois eles me largavam no meio da rua e eu ficava desesperado só ouvindo os carros zimpando por mim. O maior desespero! Mas no fundo eu imaginava que não era o meio da rua, e sim algum lugar mais seguro, pois eu ouvia eles rindo pra caramba, mas depois corriam em me conduziam!

Foi memorável.... Tenho as marcas até hoje. Fiquei com um queloide no braço direito, e no início morria de vergonha.

Mas depois me consolei ao imaginar fazer uma tatuagem de águia, que era a forma da queimadura. O rosto não ficou muito ruim, pois a água que joguei na hora (junto com 2 ovos que quebrei na cara, em busca da albumina, que eu tinha lido em algum lugar que amenizaria o efeito) impediram uma cicatriz maior.

 Só sei que fiquei 6 dias cego, (maneiro! igual a Matt Murdoch) e ficava andando pela casa decorando tudo com os outros sentidos.

Ouvia muita música no meu gravador, eu tinha muitas fitas, e aos poucos a visão voltou, E PARECIA MELHOR QUE ANTES! (ao etilo Marvel! Viu, Murdoch?)

É a maior saudade, lembrar daqueles tempos de boy.

Trabalhei na Agaeme mais de três anos, só saindo por ter passado na prova do Banco Real.